Roupeiro de lembranças

 

deve sofrer de disposofobia, coitado:

prejulgam-me uns pobres de história!

de fato, eu guardo muitas lembranças

num roupeiro envernizado de imbuia

que já ocupa um quarto da memória

 

certa parte está disposta em cabides

tal camisas, que só no peito apertam

tecidas na doce infância e mocidade

como os bordados em panos da vida

resguardados ali das traças da idade

 

recordações revivíveis a todo tempo

por perfumes, por cores ou por sons

ecos perenes e silêncios do passado

momentos não apagados pelos anos

retratos fixados ao fundo das portas

 

ali só os segredos se desmantelaram

nos fundos falsos de cada gavetinha

desassegredados ou então reduzidos

a um pó fininho, um tipo de farinha

da qual hoje o meu riso empanzina

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