Um amor e uns goles de plágio

 

Eu bebo para lembrar um grande amor.

 

Eu bebo, lembro, esqueço, ciclicamente.

 

No esquecimento, revelo toda minha culpa.

Na lembrança escondo o que deixei de amar.

 

Não conjuguei esse verbo em tempo certo.

No pretérito, teria sido mais que perfeito.

Era um presente e hesitei: futuro imperfeito.

 

Ele chegou brisa, eu perseguia tempestades.

Deitou-se orvalho em relva, eu, inundações.

Cuspi na boca que eu comia!

Fiz da incompletude o meu maior castigo.

Feri com ferro que me feriria.

 

Abri mão de um grande amor e da poesia.

Arrebanhei palavras por coisas de não se amar.

Entrincheirei versos para lutarem contra mim.

 

Lembrar minhas estrofes arregaça feridas.

Esquecê-las, ébrio, torna-me menos vazio.

 

Eu bebo, esqueço, lembro, ciclicamente.

 

“Eu bebo para esquecer meus poemas”.

Comentários

  1. Escrevi esse poema a partir do trecho "Eu bebo para esquecer meus poemas, e também lembrar um grande amor", de Pedro Gabriel, em "Eu me chamo Antônio". A quantidade de versos (livre) em cada estrofe está associada, de certa forma, aos elementos de uma sequência de Fibonacci, sendo 1 - 1 - 2 - 3 - 5 - 3 - 2 - 1 - 1.

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