Trecos da mesa de cabeceira - I
na areia da ampulheta eu desenho deitado
meu rosto como o levo à cama da memória
mas acordo toda manhã um pouco apagado
tal um espelho que não reflete
lembranças
saio cantando algo que nem mais se
escuta
ensaiando o passo que ninguém mais
dança
vigor de folha seca que vento não
sustenta
café em copo americano e a bala de
menta
o limo encobre segundos em verde
silêncio
nas
pregas dum relógio enraizado na cerca
com duas lâminas aguçadas e sem
ponteiros
e em fiapos de então o tempo me
desfibra
mas quando a tarde assenta o colo da noite
e nos galhos do luar os minutos se
aninham
decanto minhas horas na varanda do
eterno
e juro que ainda sou aquele instante
inteiro
(então eu me desenho novo de novo na
areia)
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