Rosa-lírio

 

era ‘descabida’, sua pretensão

de um desabrochar diferente

com espádice ereto e vistoso

um sonho sonhado em botão

 

mas se abriu repolhuda demais

 

à mercê dum mesmo padrão

em jardim de rosas alinhadas

doía o seu peitinho perfumoso

a sustentar tamanha privação

 

flor aberta em canteiro oposto

 

ao santo matiz dirigia oração

pintasse em breve uma saída

tempo de flor não é generoso

já, já cairia em despetalação

 

quem bem a via, um bem-te-vi

 

compreendendo sua aflição

arrancou-a do pé em bicadas

e aninhou-a no solo arenoso

da sua 'escandalosa' paixão

 

depois que a hora ficou ruiva

 

lançou pétalas ao afável chão

uma a uma, como livro aberto

ao esvair da seiva riu gostoso

a pequena vida em aceitação

 

os lírios lamentaram chorando

 

e releram sua dor desde então

até que se dobrassem por terra

num plantio mais harmonioso

de seus ânimos em comunhão

Comentários

  1. Lindo e também comovente, Antonio...! Essa é a 'crônica' da apesar de 'efêmera', linda passagem pelo mundo dessa e tantas flores que colorem e apaixonam quem as vê pela vida afora! Serve também para as coisas boas ou prazerosas de nossa vida! Uma boa tarde e bom domingo, meu irmão em letras e vizinho de Blogspot!

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