O tempo de ensacar céu azul

 

já usei miçangas em volta do pescoço

agora, tenho ali apenas rugas e contas

e estas me sufocam: são todas de pagar

e trabalho duro pra manter tudo em dia

e dou prejuízo até se eu parar pra cagar

entre tantos “es”, desacreditei da loteria

e teria que nascer outras e várias vezes

e apostar sempre, a cada novo concurso

probabilidade usurpou minha esperança

e apostar é coisa que eu já nem lembro

a lembrança é povoada só dos relógios

que trazem as horas que me perseguem

eu queria mais tempo pra perder tempo

o tempo repleto de tempo duma infância

o da eternidade entre um e o outro Natal

aquele da infinita espera de aniversários

que hoje se acumulam, decrescivamente

queria mais tempo pra coisas da inocência

pra disputar trava-língua com grilos gagos

e pra colecionar aranhas mancas, de novo

queria mais tempo pra lidar com a poesia

tempo que é de ensacar manhãs de céu azul

pra dar outra cor às tardes que se acinzentam

Comentários

  1. Lindo, lindo, lindo, Antonio...! E que aproveitemos(inclusive com poesia!) todo o tempo que temos, que nos resta... ou sobra! Lindo o seu espaço...! Não falei que vinha...?!rs Um bom dia, meu irmão em letras!!

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    1. Meu caro irmão em letras, que bom que vieste e que registraste a tua visita! Apareça sempre que puder, é uma honra recebê-lo aqui!

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